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Beber licor do São João não tem preço e a gente nunca esquece

Publicado em: 16/06/2020
Por: Adilson Fonsêca/Paulo Sampaio
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Nada de “quentão”. No interior da Bahia a bebida mesmo nesse período de São João e durante todo o mês de junho é o licor. E se for de jenipapo, o mais tradicional, não tem preço e quem experimenta jamais esquece. E não é só em Salvador, mas em quase todos os municípios baianos, que o licor prevalece. A mistura de chuva e o frio do mês de junho, quando se comemora os três santos – Santo Antonio, São João e São Pedro – acaba criando um clima propício para quem quer apreciar essa bebida típica do interior.

O mês de junho é caracterizado no interior da Bahia pelo cheiro de chuva, terra molhada,barulho dos fogos juninos, som da sanfona e o gosto inconfundível do jenipapo. É tempo de São João, e com a chegada do inverno, tempo de frio, de milho verde, da canjica, dos bolos de aipim, milho e carimã, e da fogueira armada no terreiro, onde o milho assado, a carne de bode ou do sol, é acompanhada pelo licor de jenipapo.

Presente em 10 de cada 10 casas na roça, o licor representa o próprio espírito da festa, e por isso mesmo, é preparado de forma artesanal ao longo do ano, para ser degustado preferencialmente nos festejos juninos. Quer seja na tradicional Feira do Porto, em Cachoeira, ou entre as Guerras de Espada de Cruz das Almas e Senhor do Bonfim, ou nas quadrilhas de Paulo Afonso e Euclides da Cunha, o licor criou uma relação de afetividade nas comunidades, sendo o de jenipapo no mais famoso deles, mas já com concorrentes famosos como o de cajá, siriguela e amendoim. Aquece a alma e esquenta o corpo.

Origem – Conforme narra o folclorista Câmara Cascudo, a origem do forró está no arrasta-pé ou forrobodó, baile junino animado pela sanfona ou acordeão, o triângulo e a zabumba, que tocam ritmos nordestinos como o baião, o xote e o xaxado. Já o Jenipapo, é um fruto típico da Mata Atlântica e bastante consumido na Região Nordeste, tendo sido trazido pelos colonizadores das Américas do Sul e Central.

É um fruto de sabor agridoce, de cor amarelada e, que segundo a tradição, tem propriedades medicinais, é afrodisíaco e ajuda a emagrecer Mas o melhor aproveitamento é na produção de licor, compotas e doces cristalizados – com pequenos pedaços da fruta secas ao sol e cobertas de açúcar , com uma leve pitada de canela em pó.

O licor – Beber um licor junino na Bahia é para quem gosta de bebidas fortes. O teor alcoólico supera em muito o da cerveja e das chamadas bebidas quentes, as roscas e caipirinhas. Portanto, nem pensar em beber e dirigir, ainda mais se for pegar estrada. O sabor adocicado da bebida é um perigo e você nunca fica na primeira nem na segunda dose.

Daí, o melhor mesmo é aproveitar os festejos juninos numa fazenda, sítio, casa de amigo ou numa das muitas pousadas espalhadas pelo interior, guardando bem longe a chave do carro. E curtir também a mesa farta que costuma ser tradição do período junino, à base de bolos, canjica, pamonha, doces em geral, amendoim cozido e salgados variados.

Especialistas explicam que o forte teor alcoólico do licor, aliado ao sabor adocicado das frutas, ajuda a combater a sensação térmica de frio, e o jenipapo, que é uma fruta rica em ferro e outros nutrientes, auxilia no combate à anemia, às inflamações do sistema respiratório e ao reumatismo. Portanto, se alguém vier pegar em seu pé por estar tomando um desses licores você já tem a desculpa na ponta da língua: diga que ele também é remédio…

Preparação – O preparo do licor caseiro segue sempre uma receita de família. Pode ser feito da forma mais tradicional, com álcool e a fruta em infusão até ficar completamente maturada ou numa forma mais cremosa. Neste caso, a receita vale de região para região, mas inclui o açúcar e, em alguns casos, mel ou melaço de cana-de-açúcar.

Cachoeira, no Recôncavo Baiano, a 111 km de Salvador é um polo conhecido da fabricação de licor. Mas na região ele também é encontrado na cidade de São Sebastião do Passé, a 51 km da capital, ou um pouco mais distante, na Chapada Diamantina, na cidade de Seabra, na cidade de Amargosa, em Itajuípe, no Sertão, na cidade de Serrinha, ou no Piemonte da Chapada Diamantina, em Caem. E em Salvador, nas feiras livres como as da Sete Portas e São Joaquim, ou no convento de Nossa Senhora do Desterro, no bairro de Nazaré, onde as Freiras mantém uma tradição de mais de 100 anos no fabrico dessa bebida artesanal.

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