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Lavagem do Bonfim, onde o religioso e o profano dão as mãos

Publicado em: 25/07/2023
Por: Adilson Fonsêca/Paulo Sampaio
Atenção: Caso qualquer das fotos que ilustram essa matéria seja de sua autoria nos informe via WhatsApp (71) 9.9982-6764 para que possamos inserir o crédito ou retirar imediatamente.

Imagine um templo erguido no alto de uma colina há mais de 260 anos. Imagine um templo onde se acomodam, lado a lado, fervorosos católicos e discípulos do Candomblé, a cultuar uma mesma fé, uma mesma entidade, por cada um denominada de um jeito, pouco importa, mas que cura o corpo e a alma, que traduz fé e renova esperanças.

Vir à Bahia e não visitar a Igreja do Senhor do Bonfim é desperdiçar uma oportunidade rara de conhecer um dos maiores símbolos da religiosidade dessa terra. E se você está na cidade exatamente esta semana ou está chegando, a emoção vai ser ainda maior. Nesta quinta, a segunda do ano, é o dia de cultuar mais intensamente o Senhor do Bonfim, com a caminhada de 8 km e a lavagem das escadarias da igreja

A caminhada começa em frente a igreja da Conceição da Praia, a alguns metros do Mercado Modelo. Lá, baianas geralmente ligadas aos cultos afro-brasileiros, como o candomblé, com suas vestes alvas e adornadas por contas e rendas, dançam e cantam ao longo do trajeto ao som do Hino ao Senhor do Bonfim, e ao chegarem ao adro da igreja, derramam das “ quartinhas” (potes de barro que levam na cabeça) a água de cheiro e fazem uma espécie de benção aos que buscam proteção do milagroso santo.

O banho, com as essências perfumadas, simboliza o ritual da Igreja Católica da “Água benta”, e como tal, é tido como portador de boas energias e proteção. Mas nessa festa o que impera é a fé e o sincretismo, razão de a Bahia ser o que é.

Fé e resistência- “Quem tem fé vai a pé” é uma referência ao teste de resistência física que centenas de milhares de pessoas de todos os credos, cores e ideologias têm que enfrentar para cumprir o percurso de oito quilômetros do cortejo. E a maioria o faz com alegria e descontração. Grupos musicais e folclóricos dançam, brincam, cantam e protestam, porque a Lavagem do Bonfim é também um campo de manifestações políticas.

Para quem não tem disposição física para fazer todo o percurso, nada é perdido, pois nas calçadas, nos bares e restaurantes improvisados nas sacadas dos prédios da área do Comércio, pode-se ver todo o cortejo e até mesmo participar dos grupos de samba-de-roda, capoeira ou alguma manifestação política contra ou a favor de alguém.

Ou, se adepto for apenas do lado profano da lavagem, curtir também algumas das muitas festas privadas programadas para esta quinta, com preços variados, as principais no Terminal Náutico, próximo ao Mercado Modelo, no antigo Mercado do Ouro e na Bahia Marina, na Avenida de Contorno.

Um passeio pelo secular templo

A igreja não é a mais velha do relicário religioso de Salvador, mas é, sem dúvida, a mais famosa e que retrata bem a cultura e a religiosidade dos baianos. O sincretismo que impera nessa terra.

Construída em 1754, no alto de uma colina, de onde é possível contemplar a Baía de Todos os Santos e o contorno das Cidades Alta e Baixa, a Basílica do Senhor do Bonfim é palco de uma das maiores manifestações religiosas no Brasil: a Lavagem do Bonfim, que acontece sempre na segunda quinta-feira de janeiro.

A Colina Sagrada, como é conhecida, não precisa dia nem hora para estar cheia de fiéis. Os que encontram as portas do templo abertas e conseguem assistir uma missa, vivem um momento mágico.

 

Os sermões do Padre Edson, o “cardeal da Colina” como foi apelidado pelos fiéis e integrantes da irmandade, são sempre ricos.

Os que chegam nos horários em que a igreja está fechada, renovam a fé em suas escadarias, onde anônimos vendem as tradicionais fitinhas do Bonfim, que podem ser amarradas ao pulso.

Multicoloridas, elas também enfeitam todo o gradil que circunda a igreja, disputadas nas festas e abençoadas com água benta à cada celebração.

 

Reza a lenda que amarrada ao pulso, o devoto deve fazer seus pedidos e orações. E para ser atendido, a fita deve permanecer lá até que o tempo desfaça o nó ou ela quebre, naturalmente.

Por falar em fé, existe na igreja a Sala dos Milagres, onde são ofertados objetos variados em agradecimento por graças alcançadas. Imagens ou réplicas de órgãos do corpo humano costumam ser deixadas pelos devotos e os relatos são de arrepiar.

A igreja foi construída em estilo neoclássico, com fachada em rococó. É uma típica igreja colonial possuindo duas torres sineiras laterais.

A Igreja do Bonfim de Salvador chama a atenção por suas dimensões e pela posição de destaque na elevação onde foi instalada. Ela surge ao fim de uma longa avenida, soberana e bela e arrepia quem dela se aproxima.

A lavagem da igreja teve início em 1773, quando os integrantes da “Irmandade dos Devotos Leigos” obrigaram os escravos a lavarem a igreja como parte dos preparativos para a festa do Senhor do Bonfim, no segundo domingo de janeiro, depois do Dia de Reis.

 

Com o tempo, adeptos do candomblé passaram a identificar o Senhor do Bonfim com Oxalá. Durante a tradicional lavagem as portas da igreja permanecem fechadas por ser impossível abrigar a multidão que para lá se dirige, mas é no adro da igreja que as baianas despejam a água de cheiro nos degraus, abençoando e benzendo os devotos e turistas.

 

A água lava as escadarias e o adro da igreja, mas acima de tudo, abençoa os de fé, por isso é tão disputada ao final da longa caminhada de 6 quilômetros, que começa na igreja da Conceição da Praia, pertinho do Elevador Lacerda e vai até à colina sagrada na segunda quinta feira do ano. Se eu fosse você, não perdia.

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